Afoxé Badauê - Release
(Jimmy Cliff e Gilberto Gil Junto ao Afoxé Badauê em 1980)
Mestre Moa, possui uma história que se mistura com a do Afoxé baiano. Em 1977, consagra-se campeão do Festival da Canção Ylê Aiyê - o primeiro bloco afro do Brasil. Em seguida, em Maio de 1978, funda o afoxé Badauê, que desfilou pela primeira vez no ano seguinte e tornou-se campeão do carnaval na categoria de afoxé, fato que retornaria a acontecer nos anos 80, 82 e 83.
Badauê Foi o primeiro bloco que permitiu a participação de mulheres e provocou várias mudanças importantes na identidade do carnaval baiano, como podemos observar neste trecho da matéria da jornalista Rosa Bastos, publicada no Jornal O Globo em 12 de fevereiro de 1980:
"O Badauê surgiu trazendo uma proposta nova: valorizar o negro e sua cultura. Quebrando rígidos preconceitos, deixou que entrassem mulheres, permitiu a livre criatividade em termos de dança, canto, ritmo, instrumental, indumentária e alegorias.
Ganhou o carnaval e a simpatia do povo. Foi festejado nos versos de Caetano Veloso e Morais Moreira e, o mais importante, provocou o surgimento de 14 novos afoxés."
Badauê vai pra o Carnaval com a gana de contribuir com a divulgação do afoxé. Nessa época, embora os Filhos de Gandhy comemorassem 30 anos, também demonstravam dificuldades em atrair a comunidade pro carnaval baiano. O afoxé Badauê vem trazer as inovações que vão atrair adesão de jovens, de todos os bairros de Salvador, filhos e filhas de santo de diversos terreiros, que saem pela primeira vez no carnaval de 1979 com o tema “Revolução da Arte Negra”. Dentre as inovações do Badauê para o carnaval, eles trazem: carro com som amplificado, cenário de uma senzala na qual ficavam os instrumentos, e diversos músicos circulando em volta desse carro.
O afoxé Badauê leva para a avenida uma sonoridade especial trazida dos terreiros e adaptada para uma nova linguagem onde se mesclava o iorubá e o português nas suas composições. Isso vai ajudar no que o escritor e poeta Antônio
Risério chamaria no seu livro “Carnaval Ijexá” de reafricanização do carnaval baiano. Já que naquela época o carnaval era tido como violento, sem dúvida é o afoxé Badauê quem vai dar leveza ao carnaval de Salvador e os principais trios aderem ao ritmo Ijexá como base também nas suas composições (Trios como Dodô e Osmar, Moraes Moreira, entre outros). Outros artistas, como Caetano Veloso, também fortalecem a proposta do surgimento de diversos afoxés nos bairros periféricos de Salvador.
O sucesso do afoxé Badauê levou o afoxé além do carnaval baiano. Em 1979, em seu disco Cinema Transcendental, Caetano Veloso gravou a música “Badauê”, composição de Mestre Moa. Caetano também canta “moço lindo do Badauê” na música “Beleza Pura”. Em 1980, o afoxé Badauê participa do festival de música brasileira MPB Shell (Maracanãzinho, Rio de Janeiro) com coreografia de Ijexá na Música Rasta Pé, de Chico Evangelista e Jorge Alfredo. Neste mesmo ano o afoxé Badauê participa do encontro entre Gilberto Gil e Jimmy Cliff no estádio da Fonte Nova, Salvador. Alem de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Moraes Moreira, Badauê também foi cantado e celebrado por Clara Nunes, Luiz Melodia, Zezé Mota, ilê Aiyê, Paulo Cesar Pinheiro, dentre outros compositores e cantores.
Em 1984 Mestre Moa participa do projeto Kizomba, conduzido por Martinho da Vila, esse projeto organizava Encontros Internacionais de Arte Negra e reunia pessoas de representatividade política e artística. A participação de Mestre Moa aconteceu no Pavilhão de São Cristóvão, Rio de Janeiro. Várias delegações africanas (Angola, Moçambique, entre outras) realizaram intercâmbio dos ritmos africanos com os ritmos afro-brasileiros, entre eles o Ijexá.
Em 1985, Mestre Moa participa como dançarino da escola de samba Garotos da Orgia em Porto Alegre. Em seguida vai desenvolver nas academias de dança e de capoeira o seu trabalho, sendo um dos primeiros artistas baianos a
contribuir com os ensinamentos dos ritmos e da dança ligados aos terreiro da Bahia e dos blocos de afoxés no sul do país. Com o grupo musical Quizila, ao retornar a Salvador em 1986, se apresenta no teatro Solar Boavista, mesclando a experiência do Ijexá com a influência da música negra gaúcha.
Em 1994, na praça da República, São Paulo, com a união de amigos e admiradores da cultura afro brasileira, surge o grupo de afoxé "Amigos de Katendê", que em 1995 participou do carnaval em São Paulo na Cohab José Bonifácio. Em 1996 o grupo viaja a Salvador reintegrando os componentes do "Badauê" e outros afoxés e desfila no carnaval, estabelecendo assim um intercâmbio entre Bahia e São Paulo. Hoje, Mestre Moa é o coordenador geral do afoxé "Amigos de Katendê", que se estendeu para outros estados (Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Amazonas e Minas Gerais), assim como outros países (Argentina, Colômbia e Espanha).
Em 1996, elabora o tema “Tambores, Formas e Louvores” para o bloco Afro Oba Dudu, e escreve
duas canções homenageando dois mestres da cultura afro-brasileira: Pierre Fatumbi Verge e Carybé. E nesse ano o bloco é premiado pela Bahiatursa, e organização do carnaval, como um dos melhores blocos a se apresentar no circuito Praça da Sé-Campo Grande.
Em 2002, Badauê comemora 25 anos com a participação de Caetano Veloso e do bloco afro Ilê Aiyê no palco Ferreira Santos (Bairro Federação – Salvador). Ainda, sagra-se bicampeão do festival da Canção Ilê Aiyê com a música tema “Revolta dos Malês” e em 2003, sagra-se tricampeão com a música tema “Na Rota dos Tambores do Maranhão”, ambas em parceria com Marcos Guellwaar.
Em 2013, comemorando os 35 anos da fundação do afoxé Badauê, realiza a apresentação “Pra Te Lembrar Badauê” no teatro Solar Boavista. Com palestras, oficinas de ritmos, toques e dança Ijexá. Na praça Teresa Batista, Teatro Solar do Unhão. As mesmas comemorações estendem-se para São Paulo, com o projeto “Ao Som do Ijexá” em 2014 que envolveu várias oficinas nas Fábricas de Cultura nas regiões mais carentes de São Paulo, ministrando apresentações e oficinas de capoeira, samba de roda, afro-reggae, dança-afro e afoxé. O projeto “Ao Som do Ijexá” encerrou-se com uma grande festa em São Paulo conduzida pelo afoxé Badauê.